top of page
CAPA FLAVIA copiarq.jpg

Me escreva uma Carta

Esta é uma página para mostrar o que já rolou por aqui. No lançamento de minha música "Carta" criei este site com o intuito de que as pessoas me enviassem palavras engolidas. Fiz a leitura no stories do Instagram e queria deixar registrado aqui algumas de minhas favoritas. 

IMG_0572 copiar.jpg

Cartas

01

Como vão as coisas por aí? 

Por aqui, não sei distinguir! 

Já não sei mais discriminar o que é meu ou o que é dos outros! Durante todos os dias que me olho no espelho, procuro me encontrar diante de todos os estilhaços que sobraram de mim, diante do embaçado causado pelas rachaduras na minha retina.

Se soubesse o quanto venho pensando em colocar um fim nessa versão atual de mim… todo dia fico pensando como seria um novo eu. 

Será que seria fiel a versão inicial que eu já desconheço? Mais corajoso? Menos visceral? Covarde, talvez covarde!

Os pesos dos dias são subjacentes. A esperança também, contínua como um gráfico em constante, que permanece ali, apesar dos pesares, ela está aqui. 

Tenho pensado nessas músicas, tenho pensado nas inúmeras cartas que pessoas deixam, deixaram e sempre irão deixar de escrever por aí.

Que o mundo te cuide e que você cuide do mundo. Boa noite.

02

Escrevi isso uma vez enquanto pensava sobre tudo que rolava na minha vida.

imagino o futuro em que serei eu.
fui também mais vazio, hoje sinto que sou menos,

menos vazio, redundante né?
vou e volto nesse meu personagem inicial que sempre achou que o mundo era pra si, sofro no primeiro passo que dou, nunca. 
passei a chorar bem mais, aceitar bem mais e ouvir bem mais, acreditar bem mais e talvez,
até esquecer bem mais.
pra mim vale hoje deixar de remoer, me perdoar tanto quanto peço para os outros, perdão pelo que fui ontem, inconsciente.
tento também acreditar mais nas coisas que eu amo, antes via como resolver depois, tento ser agora mais e mais.
sou mais eu quando me visto como eu quero, exagerado pra ser tudo que desejei aqui dentro por muito tempo, mas só me privei pra fingir pros outros algo que nunca foi.
me escondi das minhas próprias costas, próprias juras ou até 
nos meus textos, me escondi muito aqui também, talvez seja a hora de ser tudo isso que lutei contra. 
talvez esse tempo todo eu só tenha mentido pra mim, talvez eu esteja mentindo agora, não sou dono do meu próximo segundo. Era o que convinha, tentava de todas as maneiras alimentar esse superego dentro de mim. 
as coisas nos vem para ensinar, mas até quando elas não são tão como a gente? sentem como a gente, esquecem como a gente, doem como a gente? 
isso não significa viver como um outro, é mais do que isso. acho que o que me faz pensar é me vestir. normalmente saio do banho, penso que poderia ser diferente quando me olho no espelho, toalha e me arrumo. penso, como serei hoje? o que eu sou hoje que falta mostrar? me visto assim. queria poder usar aquelas botas de cowboy às vezes, elas dizem um pouco sobre as minhas meias de lã. queria um sobretudo, uma gola alta e até mesmo um óculos bem legal. 
queria ser o eu que sonhei. 
queria que os meus textos tivessem mais de mim, menos abstratos. queria não ser mais uma divisão entre isso e o que se anda por aí. difícil.
mas enquanto não vem, tento demonstrar mais que me importo, eu te jurei isso, não foi? me jurei pra mim mesmo, ser isso. e me importar mais com o que vale, com os meus pensamentos mais rotineiros, odeio cálculo. 
odeio a ideia de estar longe de tudo que me torna eu, às vezes fico sozinho pra pensar nisso. assim posso ser um pouco mais. 
às vezes os textos são longos demais pra caber nisso tudo, às vezes os textos precisam ser mais meus. mas o que me torna melhor? o que eu deveria ser pra dizer tudo o que eu penso? será que eu vou contra mim mesmo aceitando tudo isso novo? jamais. faço a pergunta de novo, pra que deixar de ser eu? 
e percebo que todo esse tempo, depois do clarão, do teto preto, entendo que eu me ignorei demais.

_edited.jpg
IMG_0561 copiar_edited_edited_edited.jpg

03

Querido eu,

Sinto-me compelido a escrever esta carta para expressar os sentimentos que têm pesado em meu coração ultimamente. Às vezes, parece que estou perdido na vida adulta, sem uma bússola para me guiar. A sensação de envelhecer rapidamente, mesmo com apenas 23 anos, é avassaladora. Surge a dúvida constante sobre o que devo fazer, se estou desapontando meus pais, se estou desapontando a mim mesmo e se estou deixando de viver plenamente e de experimentar amores verdadeiros.

Às vezes, sinto falta de ter um amor, alguém que esteja ao meu lado e me acompanhe em todas as situações da vida. Sinto falta de ter alguém para compartilhar risadas, abraços e momentos de conexão profunda. Anseio por ter alguém que esteja lá para me apoiar em todas as minhas lutas e celebrações, que seja um verdadeiro companheiro de vida.

No entanto, apesar de todas essas inquietações e incertezas, quero que saiba que continuo vivendo bem. Encontro forças para enfrentar os desafios diários, e isso é algo de que me orgulho. Apesar de me sentir perdido, ainda encontro alegria nas pequenas coisas, nas risadas compartilhadas com amigos, na busca por novas experiências e na aprendizagem constante.

Reconheço que essa fase da vida pode ser tumultuada e confusa, mas também acredito que é uma oportunidade de autodescoberta e crescimento. Não há uma resposta definitiva para o que devemos fazer ou para onde devemos ir. É uma jornada pessoal, e cada passo dado é valioso, independentemente de onde nos leve.

Eu sei que é fácil se deixar levar pelos medos e dúvidas, mas quero encorajar você - e a mim mesmo - a não se cobrar tanto. Não estamos destinados a seguir um roteiro predefinido ou a alcançar certos marcos em um determinado prazo. A vida é cheia de possibilidades e oportunidades, e nosso caminho se desdobrará no tempo certo.

Deixe-me lembrar que você não está sozinho nessa jornada. Há pessoas que se importam com você e estão dispostas a oferecer apoio e amor incondicional. Não tenha medo de buscar ajuda ou compartilhar suas preocupações com aqueles em quem confia. Juntos, podemos enfrentar as incertezas e descobrir nossos próprios caminhos.

Por fim, quero lembrá-lo de que você é resiliente e capaz de superar qualquer desafio que a vida lhe apresente. Acredite em si mesmo e mantenha viva a chama da esperança. Lembre-se de que a vida é uma combinação de altos e baixos, e é nesses momentos de tempestade que crescemos e nos fortalecemos.

Continue buscando a felicidade, perseguindo seus sonhos e valorizando cada experiência ao longo do caminho. Você é mais forte do que pensa e merece viver uma vida plena e significativa.

Com carinho e apoio,

Eu

04

Encontrei-me quando perdi-te
 

Me encontrei em você. 
Me perdi da mesma forma. 
Encontrei o amor. Perdi a liberdade.
Encontrei o socorro. Esqueci como era a dor. 
Contigo eu estava segura, mas já não sabia o que era voar. 
Logo eu que sempre fui amante da liberdade, escolhi 
ao teu lado pousar. 
Fui mergulhando no nosso amor e aos poucos esquecendo de 
me amar.
Nesse mar de ilusões, achei que estar ao teu lado bastaria.
Que besteira, minha amiga dizia.
Mas eu continuei, continuei porque nos meus momentos de
delírio, algo me dizia que você ainda era amado por mim.
Ah coração, porque me sabotas? 
Tu dizes que eu o amo, mas
deseja sentir o beijo de um outro alguém...
Amar a dois, que mal tem?
Coração de tanto brincar comigo, resolver responder:
"Tudo bem ser indecisa", ele disse.
"Tudo bem ser indecisa quanto a roupa, o filme e o sorvete..."
Mas jamais esteja em dúvida sobre o seu amor por alguém.
O amor salta, grita, se mostra e derrama para todos os lados
da forma mais clichê, estúpida e sem graça possível.
Mas querida, se você não o vê mais, é porque ele não está mais ali.
Quando dei por mim, sua piada já não era mais engraçada, seu perfume
não me causava arrepios e seu beijo não era tão doce. Teu olhar
parecia tão distante... Culpado coração! 
Me fez tomar a maldita decisão.
Te olhei ir embora com lágrimas no rosto, dizendo palavras que jamais 
pensei sair da sua boca. Assustei-me com o vazio que senti no peito. 
Não chorava, não sorria. Não senti nada. Pensei enquanto molhava a mandíbula 
com mais um gole de vinho: o amor se esgota.

IMG_0401 1_edited.jpg
IMG_0466_edited.jpg

05

quando minha depressão é mais forte que a ansiedade o mundo parece ser sem graça. O bem-estar parece ser ensaiado, de mentirinha. Alegria fingida para não preocupar ninguém, não estragar a viagem ou uma tentativa falha de se esconder da depressão. A dissociação aparece em alguns momentos como se alienígenas me abduzissem para lembrar o que tanto quero esquecer; um barulho qualquer me trás de volta à terra, mas não como antes. A bateria social fica mais gasta, a coreografia da felicidade parece não ser bem ensaiada, o coração angustiado como um grito silencioso. Trinta mil pensamentos bagunçados, eu permaneço calada, mas volto para a alegria mal ensaiada, que de alguma forma convence toda a plateia. Sorte ou eles também são grandes mentirosos?
Evito ficar sozinha, pois sei o quão cruel minha mente pode ser. Os pensamentos ficam mais acelerados, duplicados e mais altos. Tudo o que não fui, tudo que errei, o que falei e deixei de falar, tudo o que jamais alcançarei. Então não fico só. Quanto mais distração, melhor. Na hora de dormir as coisas ficam… não sei. Estranhas. Um esgotamento de existir ainda maior. Fico observando o cantinho mais escuro do quarto torcendo para que algo aconteça. Nada acontece e sei que não vai mudar, ainda assim fico observando e imaginando diversas possibilidades de pura fantasia, só com aquele cantinho. Torcendo para que essa parte mais escura seja na verdade um portal para um lugar onde eu sou a minha melhor versão, sem dor, sem a depressão. Onde eu sou quem eu deveria ser. As vezes torço para o cantinho mais escuro ser o oposto disso: espíritos famintos por cada trauma mal processado, sedentos para intensificar a tortura que eu mesma iniciei… me punindo por existir em um mundo que nunca pertenci. 
Fico ali  deitada esperando algum sinal. Um coelho como “Alice no país das maravilhas”, um camondongo como em “Coraline”, um brilho aconchegante me convidando para me aproximar ou a escuridão quente e medonha chegando com todos seus demônios para me buscar. Borboletas me guiando para longe de toda essa bagunça que sou ou o próprio Lúcifer pronto para me levar com ele ou pronto para terminar de me destruir com suas próprias mãos. Mas nada nunca acontece. O cantinho mais escuro do quarto é apenas um cantinho com menos iluminação. Mamãe me ensinou a rezar antes de dormir, será que ela sabe que minhas orações são para sair daqui? Implorando pela morte, seja rápida ou dolorosa… oração feita para Deus, anjo da guarda ou qualquer um interessado, mesmo que seja mau. Será meu pai sabe que tudo isso acontece desde que tenho mais ou menos 12 anos? Será que os médicos que me acompanham realmente acreditam que vou ficar bem algum dia? Espero que todos fiquem bem quando eu for embora, seja lá quando/como for. 
O dia amanhece, eu tomo meu remédio e já me preparo para a próxima encenação.

euflavie

  • alt.text.label.Instagram

©2023 por oquevoceguarda.com.br

bottom of page